O relacionamento sexual comprimido
por leis, decretos, normas técnicas etc. é algo que gera taras e neuroses. O
ser humano já carrega dentro de si instintos gregários que lhe impõem algumas
normas de conduta, não tão severas quanto aquelas que recebemos de nossos
ancestrais.
O casamento formal no ambiente de
Estado é uma tentativa canhestra de imitação das uniões religiosas. É até
cômico ver e ouvir Juízes de Paz dando sermões e criando encenações.
As cerimônias de casamento estão
deixando de ser o que deveriam ser para se transformarem em espetáculos de mau
gosto, entre muitas coisas transformando os convidados em “extras” de filmes
sobre cerimônias luxuosas e simplórias.
No Brasil, um país gigantesco,
multicultural e sem unidade além da língua e algumas coisas mais (?) a
imposição de cerimônias e contratos é algo até ridículo, não deixando de ser
natural o desprezo por leis feitas em ambientes distantes do povo.
A maior liberdade e a acessibilidade
a sistemas de informação e lazer facilitam a dispersão de conceitos e certezas.
A insistência em padrões do milênio passado vai se tornando ineficaz. Nossa
sociedade emergente mergulha na frivolidade e em teatrinhos do ridículo (GIKOVATE) .
É gratificante descobrir em um bom
livro (Justiça) uma rápida, mas
substancial análise com o título “CASAMENTO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO” (pgs.
314 a 321) e lembrar os conflitos entre profissionais religiosos e o esforço de
se criar estados laicos por excelência.
No livro Justiça (citado) encontramos
uma excelente análise sobre a importância do liberalismo moral e institucional,
a autonomia dos cidadãos assim como seus direitos e deveres, tendo como cenário
básico a situação da Justiça e o comportamento dos juristas dos EUA, excelente,
mais ainda quando sentimos o Brasil derivando para ideologias totalitárias.
Acima de tudo é essencial a luta pela
liberdade sem hipocrisias e atavismos, o casamento formal é um deles.
Nada mais lógico do que deixar a
união cheia de juras eternas para as religiões, cada uma delas com seus
contratos implícitos.
O Estado precisa se concentrar no que
lhe é devido, ou seja, a proteção das crianças, aí sim, exigindo compromissos
formais e severos daqueles que querem “casar de papel passado”.
Ou seja, temos aí um belo desafio de
semântica e legal, como reinventar o casamento laico?
O que vemos, sabemos e sentimos é que
nada resiste a vontades que mudam.
Pode-se fazer cerimônias fantásticas
(a Casa Real Inglesa é especialista nisso) que o que parecia eterno dura pouco
se faltar um conjunto de qualidades e condições de manutenção. Até entre famílias altamente comprometidas
com as lógicas mais solenes o casamento fracassa quando exposto a situações
estranhas e simplesmente segue os ditames de glândulas e tentações
eventualmente irresistíveis.
Naturalmente existem questões
administrativas e de Direito que se avolumam quando duas ou mais pessoas
resolvem coabitar. Isso pode ser resumido e contratado, proposto e acordado
entre as partes no mundo laico, assim como os efeitos de instituições, leis e
decretos estatais.
Nos templos o relacionamento ganha
outros formatos, mas o que se faz lá deve permanecer no tribunal etéreo. As
punições são tão severas após a morte que devem ser suficientes aos infratores
crentes.
A hipocrisia é um câncer político e
social.
Ao longo da história da Humanidade
ela foi estimulada, pois era a base de dominação de classes mais “espertas”.
Devemos e podemos agora encarar a
vida tal como ela é num Universo complexo e desafiador. Aos poucos os seres
humanos mais estudiosos devem estar percebendo a nossa incapacidade de fazer
afirmações morais a partir da vontade de seres que não somos capazes de
entender.
Aqui a vida é suficientemente
desafiadora para lhe acrescentarmos firulas em papel timbrado.
Sendo realistas, vamos rever
cerimônias e rituais antigos e já distantes de suas motivações?
Com certeza o futuro do comportamento
humano dependerá demais da evolução de sua inteligência, capacidade de
raciocinar e ter coragem para assumir riscos, assim como dos mais antigos
instintos. Os impulsos sexuais e o afeto decorrente de combinações sexuais
possíveis é algo de extremo valor na sociedade humana. Por efeito de sua
capacidade de evoluir intelectualmente o relacionamento humano está longe de se
estabilizar.
O desafio, contudo, será sempre
vencer convenções e preconceitos assim como ponderar de forma correta a
importância de juras de amor eterno.
O impulso sexual, além de ser extremamente
poderoso e onipresente, gera filhos e filhas. As crianças não escolhem seus
pais, elas são o produto deles. Isso exige um padrão de responsabilidade
absoluto.
Não há necessidade de festas,
documentos, rituais, cerimônias religiosas e outras. Os pais simplesmente devem
a obrigação de cuidar, alimentar, apoiar, proteger, amar seus filhos.
A paternidade e a maternidade afetam
profundamente a vida dos casais.
A ciência moderna oferece inúmeras
formas de prevenção da gravidez. Não existe desculpa em sociedades
desenvolvidas para a irresponsabilidade.
O casamento dispensa festas e
fantasiosas cerimônias; gerando
descendentes impõe maior atenção aos filhos e filhas. E os produtos dessas
uniões não são brinquedos, troféus ou certificados de aposentadorias.
Qualquer pai ou mãe deveria passar
por exames infinitamente mais rigorosos do que os aplicados a quem pretende
dirigir.
A imaturidade e o mau-caratismo
dominando jovens geram os desastres sociais que frequentemente conduzem os
futuros jovens à delinquência e à inutilidade.
O Casamento é absolutamente
desnecessário dentro de padrões formais, mas é essencial à dignidade humana em
relação a seus efeitos.
Ignorar a importância do que se tem
ao se tornar pai ou mãe é ato de extrema insanidade ou maldade.
Não existe desculpa ou frase que
redima a preguiça, a alienação, o desprezo dos geradores de crianças.
O casamento, portanto, não é um ato
religioso, laico, filosófico, é antes de mais nada o compromisso de levar com o
máximo de seriedade o que produzir a partir do ato sexual: os filhos e filhas.
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